Prevenção de conflitos nas empresas: é preciso ter ampla percepção e saber motivar mudanças internas
Para falarmos sobre prevenção de conflitos, creio
ser oportuno começarmos por entender o que é conflito e por que eles surgem.
Uma das definições mais elucidativas que já ouvi diz que conflito é “qualquer
situação onde exista uma oposição pessoal, interpessoal ou grupal sobre algum
interesse ou valor. Essas oposições surgem quando as pessoas contestam ideias,
atitudes e/ou comportamentos, se apegam aos seus pontos de vista e lutam por
eles, muitas vezes de forma irracional.”
Sabemos que os conflitos se originam no processo
de comunicação humana, na maioria das vezes, inconscientemente. De forma geral,
não temos a intenção de gerar ou participar de uma situação conflituosa e
desgastante. Mesmo assim, frequentemente nos damos conta de que já estamos
envolvidos em uma dessas situações sem saber exatamente como ela começou.
Para aprofundar um pouco mais este tema,
precisamos entender melhor o processo básico de comunicação, o qual surge da
interação e da intenção do emissor em transmitir uma mensagem ao (s) receptor
(es), independente do meio que se utiliza para tal. Parece simples, não é
mesmo? Porém, o que vemos acontecer, na prática, é uma grande dificuldade em se
atingir este objetivo.
Geralmente, não somos bem compreendidos porque
não conseguimos transmitir assertivamente aquilo que pretendemos. E para quem
não sabe muito bem o que é assertividade pela recente banalização deste termo,
vale lembrar que é ter a capacidade de expor – de maneira clara, madura e não agressiva
– o que se pensa, sente ou quer. Mas, como somos “formatados” desde crianças
para buscar aceitação social, acabamos dizendo aquilo que o outro gostaria de
ouvir, o que nem sempre corresponde ao que gostaríamos de falar.
Ah, então nos basta conhecer um pouco melhor este
processo e interferir conscientemente na qualidade de nossa fala para
prevenirmos muitos conflitos, certo? Errado! As empresas investem altas somas
em treinamentos de comunicação para seus colaboradores e os conflitos continuam
brotando incessantemente nos ambientes corporativos.
Olhando de uma perspectiva ainda mais ampla,
devemos admitir que conflitos são inevitáveis na vida em sociedade, de modo que
tentar eliminá-los é simplesmente uma utopia. Aliás, vale ressaltar que eles
não são necessariamente negativos. Em algumas situações promovem a oportunidade
de crescimento e coesão entre as pessoas, permitindo o desenvolvimento de uma
maior capacidade de compreensão, estímulo à mudança, motivação para resolver
problemas, transformação de valores e, sobretudo, aprofundamento de relacionamentos.
Mas tentar prevenir os excessos de conflitos (que se tornam grandes desperdiçadores
de tempo e energia) e lidar com eles de forma inteligente é uma posição
benéfica e realista.
Como podemos prevenir esses excessos, então? A
meu ver, o caminho mais curto rumo a uma solução está em desenvolvermos a
capacidade de sermos mais assertivos e de estabelecermos um ambiente de
confiança com as pessoas com as quais convivemos, estimulando relacionamentos
que abrem menos brechas a situações ambíguas. E como fazer isso?
Desapegando-nos um pouco de nosso “ego” e nos apaixonando menos por nossas
próprias ideias. Como pré-requisito a esta conquista, precisamos reavaliar como
anda nossa maturidade emocional e nosso autoconceito.
Observem que, quando defendemos nossas posições
com unhas e dentes, muitas vezes de forma insana, uma série de significados
implícitos, subliminares, está presente, nos proporcionando emoções que suprem fragilidades
normalmente não percebidas ou, pelo menos, não admitidas por nós mesmos. E, se
não as admitimos, não as resolvemos, e repetimos sempre o mesmo padrão de
comportamento obtendo sempre os mesmos resultados.
Como podemos ver, a prevenção de conflitos começa
na motivação pessoal de fazer uma autoanálise, por meio de um questionamento
sincero sobre nossa capacidade de ouvir o outro verdadeira e completamente, sem
precisar interrompê-lo (externa ou internamente), julgá-lo ou contestá-lo antes
mesmo que sua frase esteja terminada. Ou, ainda, observando como anda nossa
capacidade de aceitar que os outros têm todo o direito de discordar de nossas
ideias e pontos de vista, sem com isso nos sentirmos rejeitados, diminuídos ou
incompreendidos.
Outro ponto importante na prevenção de conflitos
é a real aceitação das inevitáveis diferenças que existem entre as mais
diversas personalidades que povoam nossos ambientes sociais e a compreensão de
que não existem verdade nem razão absoluta, somente verdades e razões pessoais,
relativas, desenvolvidas a partir de um ponto de vista individual e único,
carregado de pressupostos.
Sendo assim, percebo que no ambiente corporativo
existem técnicas e teorias sobre este tema, as quais visam a minimizar as
perdas de negócios geradas por conflitos declarados ou “mascarados” que minam a
lucratividade das empresas, a qualidade dos relacionamentos e o clima organizacional.
No entanto, para que tais técnicas sejam bem utilizadas e alcancem seus
objetivos adequadamente, precisamos dar um passo atrás e, antes disso, estimular
as pessoas a se abrirem a um processo reflexivo autêntico de autoconhecimento,
visando a ampliar a consciência e a elevar a maturidade emocional, a qual, por
sua vez, alicerça as ações e comportamentos. Este foi, é e continuará sendo o
grande desafio a ser enfrentado por quem busca prevenir conflitos em quaisquer
ambientes sociais.