Comunicar-se: um desafio surpreendente
De acordo com a etimologia,
comunicação é uma palavra derivada do termo latino
"communicare", que significa "partilhar, participar algo, tornar comum".
É um fenômeno inerente às relações que os seres
vivos mantêm entre si. No caso dos seres humanos, a comunicação é um ato
próprio da atividade psíquica, que deriva do pensamento, da linguagem e
do desenvolvimento das capacidades psicossociais de relação.
Saindo do seu significado e olhando o tema sob uma
perspectiva menos teórica, percebemos que, na prática, quando falamos tendemos
a partir do pressuposto que o outro está recebendo nossa mensagem da forma como
a concebemos, ou seja, sem nenhuma interpretação pessoal. No entanto, nossas
palavras são captadas por nosso interlocutor passando, obrigatoriamente, por
seus filtros mentais que, por sua vez, são frutos de suas referências e
experiências anteriores, as quais, decididamente, não são iguais às nossas.
Pessoas distintas, mundos distintos...
Quando nos expressamos estamos colocando em
palavras (além, é claro, da linguagem não verbal) nosso mundo interno, composto
por ideias, pensamentos, sentimentos, sensações, intuições, pressupostos,
valores e crenças. Em outras palavras, nossa comunicação verbal e não verbal é
a representação do nosso “eu” na busca da interação com o(s) outro(s). Neste
processo é comum e involuntário que usemos omissões, pois tentamos falar sobre
uma experiência complexa e detalhada por meio de uma descrição verbal limitada,
que fatalmente suprimirá uma grande parte da experiência em si.
Por outro lado, cada vez que ouvimos alguém,
recorremos às nossas próprias experiências pessoais (nosso acervo) para fazermos
uma representação interna do que a outra pessoa fala. Caso contrário, tudo
aquilo que foi omitido por ela em seu discurso criaria lacunas em nosso
processamento neurolinguístico e não seríamos capazes de compreendê-la. Isto
ocorre o tempo todo, com todas as pessoas. O processo ainda é acrescido de generalizações
e distorções, as quais são quase inevitáveis e derivam das já citadas omissões.
Considerando somente estes fatores básicos de
transmissão e recepção de mensagens já conseguimos vislumbrar o quão complexo é
o processo de comunicação e como se torna fácil o surgimento de mal-entendidos
e conflitos decorrentes do mesmo.
Costumo dizer que a comunicação é o alicerce, a
base de qualquer relacionamento. É impossível para qualquer ser humano não se
comunicar, pois até o silêncio e a inércia são sinais a serem “lidos” e
interpretados.
O que fazer, então? Bem, a partir do momento em que aprendemos os
conceitos mais básicos sobre o processamento neurolinguístico da comunicação
humana, cabe a nós estarmos sempre atentos e atuarmos conscientemente buscando
eliminar “ruídos”, tais quais as já mencionadas distorções e generalizações e,
o mais importante, desenvolvermos uma escuta mais criteriosa e com maior qualidade.
Em outras palavras, ao sermos capazes de focar no
aqui e agora nos “tornamos presentes” e estabelecemos um contato genuíno conosco,
com o outro e com o ambiente no qual estamos inseridos gerando uma leitura mais
clara, lúcida e profunda do nosso universo interior e do mundo que nos cerca. A
partir dessa consciência, somos capazes de observar e cuidar da nossa fala,
checar a nossa assertividade, escutar e, se necessário, validar aquilo que
escuto e, sobretudo, entender que nessa troca há muito mais do que palavras.
Vamos, então, mergulhar no momento presente,
apurar nossa percepção e melhorar essa habilidade grandiosa que se chama
comunicação? Fica aqui meu convite.